Durante muito tempo, o nosso país vivenciou (e infelizmente ainda vivencia em muitos estados e municípios brasileiros), um governo democrático de "fachada",
tendencioso, e, sobretudo, autoritário, em que a classe social dominante
apresentava como um dos mais eficazes procedimentos administrativos,
a limitação e a inibição das manifestações e participações populares em qualquer
tipo de instituição mantida ou subsidiada pelo Estado.
Nessas instituições,
as pessoas não podiam expor suas idéias, tampouco lutar pelos seus direitos de
cidadãos, pois, tudo era pensado com o propósito de atender as prioridades da classe
dominante. Como resultado, a escola como instituição pública, que em nenhum momento
esteve alheia a todo esse processo, ainda hoje, arca com as conseqüências advindas
desta forma de governo.
Na busca de uma educação que possibilite ao sujeito
superar os desafios do momento, aumentando a auto-estima e a confiança
necessária para operar sobre a restrição do que lhe é negado, observa-se
que, desde então, vários educadores procuram respostas que levem em
consideração o problema de desenvolvimento econômico e a participação da comunidade, iniciando assim, a busca da inserção crítica do cidadão brasileiro no processo de "democratização da escola".
Passado um longo período, com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que garante, entre outros, a gestão democrática na escola, a educação brasileira conquista o direito de, efetivamente, refletir a necessidade e a importância da participação consciente dos diretores, pais, alunos, professores e funcionários com relação às decisões a serem tomadas no cotidiano escolar, na busca de um compromisso coletivo com resultados educacionais mais significativos.
Esta educação cuja meta é valorizar o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária, agregada ao fato de fortalecer cada vez mais a democracia no processo pedagógico, encontra no projeto de Gestão Democrática da Escola, uma oportunidade real de transformar a escola em um espaço público onde diversas pessoas têm a possibilidade de articular suas idéias, estabelecer diálogo e considerar diferentes pontos de vista.
A conciliação desse ideário, a cada dia, vem se expressando com maior força na política educacional adotada pela Secretaria de Educação do Município de Amparo, que, preocupada com as mudanças educacionais dos últimos tempos, principalmente, no que diz respeito a questão da participação da comunidade no âmbito escolar, implantou junto aos professores e especialistas da rede municipal, o projeto de Gestão Democrática em diversas instâncias. Para atender as necessidades deste projeto, os profissionais de cada segmento das escolas da rede municipal, elegeram um representante, onde, mensalmente, se reúnem num período de oito horas, com o objetivo de discutir os problemas que enfrentam no cotidiano escolar. Esses encontros são denominados de Fórum Participativo de gestão democrática.
Nas reuniões do Fórum Participativo, não somente os professores, mas também especialistas, monitores, funcionários, diretores, bem como, a equipe que compõe a Secretaria Municipal de Educação e, posteriormente, representantes da comunidade, têm a oportunidade de, além de apresentar os problemas pedagógicos e administrativos, discutir questões relacionadas ao desenvolvimento e educação de nossas crianças ou qualquer outro problema que possa interferir no bom andamento da instituição. Além de apresentar os problemas, cabe aos representantes do Fórum Participativo, estudar as alternativas viáveis de resolução para os mesmos, lembrando sempre que os limites são as leis que regem a educação do país.
Na gestão democrática, as "queixas-lamentos" dos professores, coordenadores e diretores, ou seja, as reclamações de determinadas situações que procuram sempre um responsável para o problema, sem tomar nenhuma atitude efetiva, são substituídas cada vez mais, pela compreensão dos problemas abordados e as buscas de soluções possíveis, procurando priorizar o que de melhor poderão oferecer para o desenvolvimento harmonioso das próprias crianças. É preciso acabar com o circulo de lamentações, mas isso não ocorre a partir da negação dos problemas, faz-se necessário que as reclamações sejam trabalhadas, consideradas e refletidas (isso não significa, necessariamente, que todos os problemas serão resolvidos). O mais importante é o processo de busca de soluções, em que o professor transforme essas "queixas-lamentos" em juízo crítico, abrindo e valorizando o espaço para a elaboração das questões necessárias à (re)construção do conhecimento, da aprendizagem.
O ápice do Fórum Participativo está justamente em cada um dos integrantes sentir-se responsável em transformar a educação. Se realmente desejamos formar crianças que no futuro sejam indivíduos autônomos, criativos, críticos e participativos, precisamos hoje, trabalhar a autonomia do próprio professor, levando-o a estabelecer relações democráticas em sala de aula, excluindo o autoritarismo com seus alunos, pois como nos mostram várias pesquisas, só podemos auxiliar as crianças a tornarem-se autônomas e com caráter democrático, por meio de atitudes (posturas) das pessoas com as quais elas convivem.
No entanto, para que consigamos alcançar tais objetivos, é necessário que desde pequenas, as crianças aprendam a externar suas idéias e pontos de vista, e como bem sabemos; ninguém dá o que não possui. Se queremos formar cidadãos autônomos, participativos e independentes, também precisamos sê-los. Infelizmente, como dissemos no início deste artigo, o resquício de uma educação ditadora, burguesa e "pseudo-democrata", reside no fato de que, muitos profissionais da educação, encontram ainda muita dificuldade em externar o que pensam e sentem diante de uma determinada situação, ouvindo e considerando as idéias divergentes das suas, sem contudo, menosprezá-las. Lamentar é fácil, o difícil é perceber o quanto também somos responsáveis pelos problemas que enfrentamos em nossas escolas.
A luta por uma escola cada vez mais democrática, com a participação de toda a comunidade escolar, é, exatamente, o compromisso assumido por todos os profissionais da educação do município de Amparo que aprovaram a implantação do Fórum de Gestão Participativa como uma das formas de auxiliá-los a promover relações humanas, mais cooperativas e solidárias e verdadeiramente democrática em nossas escolas. Esse é o nosso desafio!
Ester Cecília Fernandes BaptistellaLuciene
Regina Paulino TognettaSandra Cristina Carina Especial
Professoras pesquisadoras da Fac. Educação/Unicamp
Um comentário:
Mto bom esse artigo!
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